As comunidades quilombolas Baixa da Onça
e Sumidouro, no município de Queimada Nova (PI), que há anos ficaram
esquecidas e à margem das políticas sociais, estão convivendo neste
período de forte estiagem com uma paisagem histórica e inédita para os
padrões locais. São os vários oásis que se destacam em meio à paisagem
semiárida com um verde que, além de renovar as esperanças, já está
gerando alimentos de qualidade em plena seca.
Nestas comunidades, onde o Programa Uma
Terra e Duas Águas (P1+2), da ASA, tem menos de um ano de atuação com a
construção de tecnologias sociais de captação de água das chuvas para a
produção de alimentos, as famílias já festejam as primeiras colheitas.
Há moradores que, além da colherem verduras para a alimentação de casa,
já conseguiram uma renda extra com a venda da produção excedente.
É o caso, por exemplo, da família de
Suelen Joana dos Santos, da comunidade Baixa da Onça, que foi
beneficiada com uma cisterna-enxurrada do programa P1+2. A tecnologia
armazenou 52 mil litros de água das últimas chuvas e é com isso que a
moradora, os três filhos e o esposo conseguem manter molhados os
canteiros de coentro, cebolinha, cenoura, beterraba, pimentão, tomate e
batata doce, os pés de macaxeira e de mamão e os plantios de capim e de
palma para a ração dos animais.
“Com a água da cisterna-enxurrada,
consigo aguar os cinco canteiros. Caso fosse na época que a gente tinha
só um barreiro, a água já havia secado e não seria possível produzir
nada. Já colhi coentro, batata doce e tomate para o consumo; vendi uma
parte e apurei uns cem reais. Antes a gente não conseguia ver um verde
destes aqui. Era só sequidão”, falou Suelen. A poucos metros dos
canteiros, o milho que foi plantado secou e não produziu sequer uma
espiga por causa da irregularidade das chuvas.
"O verde das plantas dá gosto de ver",
diz dona Maria Malene em plena época de seca. A paisagem também ganhou
um novo aspecto na área de produção da família de José Raimundo dos
Santos e de Maria Marlene Albertina de Assis Santos. O verde do milho,
melancia, macaxeira, melão e do capim contagia os visitantes do local
que fica cercado por montanhas e pela paisagem cinzenta da Caatinga.
Maria Marlene e o esposo, descendentes
de escravos que viveram na comunidade Sumidouro há quase 500 anos, estão
admirados com os bons resultados da barragem subterrânea, que
conquistaram através do P1+2, cujas ações são realizadas em Queimada
Nova pela ONG Obra Kolping do Piauí, organização do Fórum Piauiense de
Convivência com o Semiárido.
“Tenho 28 anos que moro nesta comunidade
e nunca imaginei que um dia ia ver aqui um benefício tão importante. O
verde das plantas dá gosto a gente ver. Não está melhor porque a chuva
não foi suficiente para encher a barragem, mas à vista do que era, está
excelente. Os resultados são muito bons. Já colhi milho, melancia, melão
e ainda estou colhendo feijão verde para o consumo em casa. Estamos
felizes e confiantes que vamos produzir muito mais”, afirmou Dona Maria
Marlene.
Cidade Verde
0 comentários:
Postar um comentário
Todos os comentários postados no PORTAL JACOBINA passam por moderação. Por este critério, os comentários podem ser liberados, bloqueados ou excluídos. O PORTAL JACOBINA descartará automaticamente os textos recebidos que contenham ataques pessoais, difamação, calúnia, ameaça, discriminação e demais crimes previstos em lei.